
O dinheiro físico, cada vez menos utilizado devido a facilidade, a rapidez e a segurança dos meios digitais, que tornam o dia a dia das pessoas mais prático, possuem um imenso valor para iniciar a educação financeira das crianças. O educador financeiro e administrador de empresas João Victorino aponta que um dos benefícios do uso do dinheiro físico na educação financeira desde cedo é a possibilidade de ensinar as crianças, de forma concreta, conceitos como troco, limite, prioridade e até mesmo planejamento.
“Se a criança recebe uma quantia semanal para comprar o lanche da escola, por exemplo, ela aprende que, ao gastar tudo em um único dia, ficará sem dinheiro para os dias seguintes. Essa vivência direta e visual, com as notas diminuindo ao longo dos dias, ajuda a desenvolver a noção de escassez e a importância de fazer escolhas”, explica.
Segundo o especialista, com o cartão de crédito ou débito, e o Pix, que depende de um aparelho celular, essa percepção imediata é quase inviável. “É claro que podemos visualizar o saldo total e saber a quantia que saiu a partir de determinada compra. Mas conforme vamos comprando sem conferir, chega um momento que já não se sabe o total dos gastos a longo prazo, pois é mais difícil manter um controle e eventualmente uma compreensão plena do cenário”, pontua.
Como introduzir o dinheiro na educação financeira das crianças?
- Dê mesadas ou semanadas em espécie e acompanhe junto com a criança os gastos;
- Crie metas simples com recompensas: “Se economizar R$ 5 essa semana, podemos usar esse valor para completar a compra daquele brinquedo que você quer”;
- Use cofrinhos transparentes para que a criança veja o dinheiro “crescendo”;
- Converse sobre os preços dos produtos, mostre etiquetas e faça comparações juntos,
- Estimule a criança a participar do mercado, da feira ou da padaria, incentivando-a a fazer pequenas compras com orientação.
Ensinando educação financeira de forma lúdica e criativa
Além de sempre buscarem utilizar uma linguagem acessível para as crianças, os pais e os responsáveis também podem promover a educação financeira infantil de forma lúdica, por meio de brincadeiras e jogos diversos. Alguns jogos de tabuleiro introduzem o tema de maneira simples, permitindo que os jogadores se deparem com questões como investimentos, endividamento e independência financeira de uma forma divertida.
“O Banco Imobiliário tradicional, com notas físicas, é uma oportunidade divertida para que as crianças tenham acesso ao dinheiro, façam contas e compras, cuidem da quantia que possuem, sem ter que lidar com o dinheiro de verdade. Hoje em dia, o mais comum é o Banco Imobiliário com maquininha e cartão de crédito, mas que perde um pouco a graça diante da proposta. Se optar por jogar com as cédulas, você terá uma rara oportunidade de ver o rostinho dos pequenos se iluminar quando verem o acúmulo de notas nas mãos”, indica Victorino.
Método dos três potinhos
Além disso, o dinheiro físico facilita a introdução de três potinhos ou envelopes, uma técnica clássica de organização financeira adaptada para os pequenos: um para gastar agora, outro para guardar e um terceiro para doar. Essa simples divisão ensina, desde cedo, que o dinheiro não é apenas para consumo imediato e também pode ser economizado para algo maior ou usado para ajudar outras pessoas.
A dica do especialista é optar por potinhos de vidro ou plástico transparente para depositar o valor, pois ver o dinheiro acumulando é uma poderosa ferramenta de reforço para o investidor iniciante continuar no caminho. “Infelizmente a digitalização roubou esse momento das pessoas. Vale lembrar que isso não significa criar uma aversão ao mundo digital. Pelo contrário, pois o ideal é que a criança, ao crescer, consiga transitar entre os dois universos com consciência. Mas começar pelo tangível pode ser mais eficaz para construir uma base mais robusta de compreensão”, orienta.