O empreendedorismo feminino está cada vez mais em evidência no Brasil. Segundo levantamento do Sebrae, o número de mulheres donas de negócios no país atingiu a marca de 10,3 milhões em 2022, representando 34,4% do total de empreendedores. Apesar do cenário positivo, as mulheres empresárias ainda enfrentam muitos desafios no mercado competidor.
Marília Scaroba, fundadora da Tribo Mãe, destaca a dificuldade de equilibrar o tempo entre o trabalho, a família e o cuidado pessoal. “Muitas vezes, vejo na minha clínica e no meu grupo de apoio que há uma pressão social para ‘dar conta de tudo’, o que gera um desgaste emocional significativo. A falta de representatividade feminina em cargos de liderança também é um desafio, fazendo com que muitas se sintam isoladas em suas jornadas”, revela.
Além disso, o acesso a financiamento e oportunidades de investimento ainda é desigual, limitando o crescimento de negócios liderados por mulheres. “Um ponto que sempre surge nas minhas conversas com empreendedoras é a luta contra a síndrome da impostora. Elas duvidam de suas capacidades, mesmo quando têm sucesso comprovado. Essa autocrítica muitas vezes atrasa decisões importantes ou impede que busquem o reconhecimento merecido”, conta.
Falta de financiamento
Outro desafio enfrentado pelas mulheres empreendedoras é a dificuldade em conseguir acesso a empréstimos e financiamentos para o seu negócio. “As mulheres encontram mais dificuldades para conseguir investimentos devido a preconceitos”, diz Mariana Kobayashi, cofundadora da Tech do Bem.
No Brasil, segundo o Female Founders Report 2021, estudo elaborado pelo Distrito com a Endeavor e a B2Mamy, apenas 4,7% das startups foram fundadas exclusivamente por mulheres. Segundo dados do Banco Mundial, apenas 7% do total de investimentos de risco nos mercados emergentes são destinados a negócios liderados por mulheres.
“Esses dados mostram claramente a disparidade de gênero no acesso a financiamento para startups lideradas por mulheres”, defende Mariana. “Também tem a questão da rede de contatos, que pode ser mais limitada para as mulheres. E os preconceitos e estereótipos que enfrentamos no dia a dia”, complementa.
Como apoiar mulheres empreendedoras
Medidas concretas precisam ser tomadas para aliviar a carga das mulheres e contribuir para o seu sucesso no empreendedorismo feminino. Para Gabriela Sabino, escritora e ex-chefe de gabinete no Ministério de Portos e Aeroportos, “os governos precisam priorizar políticas públicas que ofereçam não apenas acesso a crédito, mas também apoio com infraestrutura para conciliar o trabalho e a vida familiar, como creches públicas de qualidade, horários de trabalho mais flexíveis e saúde mental dessas mulheres. Redes de mentoria e aceleração que sejam realmente focadas nas mulheres também são essenciais para romper o isolamento”.
Maria Eduarda Guerra, sócia e CFO da Banlek, comenta que ainda existe uma dificuldade por parte de muitos homens em enxergar as mulheres como iguais no mundo dos negócios. “Muitas vezes, somos vistas como frágeis ou como iniciantes que precisam de apoio. No entanto, estamos vivendo um momento positivo, com muitas mulheres empreendedoras se destacando e se tornando referências. Acredito que, com mais apoio mútuo, estaremos cada vez mais perto de tornar o empreendedorismo um espaço mais inclusivo”.
Além disso, políticas que incentivem a equidade, como a promoção de licença-maternidade mais inclusiva e horários de trabalho flexíveis, podem permitir que mais mulheres prosperem tanto no ambiente empreendedor quanto na vida familiar. “Vejo isso diretamente na Tribo Mãe, onde o fortalecimento mútuo cria um ambiente onde mulheres podem crescer”, acrescenta Marília.
Dicas para mulheres empreendedoras
Para as mulheres que desejam abrir seu próprio negócio, ter uma rede de apoio é essencial. “Crie uma rede de apoio sólida, seja com família, amigas ou outras mulheres empreendedoras. Não tente fazer tudo sozinha. Acredito que a jornada empreendedora é repleta de altos e baixos, e ter com quem contar faz diferença”, orienta Marília.
Outra dica é confiar na sua capacidade, reconhecendo pontos fortes e buscando crescimento nas áreas que você acha mais desafiadoras.
“Para as mulheres que querem começar um negócio, é essencial acreditar na sua ideia. E ter um bom planejamento estratégico”, aponta Mariana Kobayashi. “Também é importante investir em capacitação contínua e testar suas ideias antes de lançar. Participar de cursos e workshops pode expandir seus conhecimentos. E validar sua ideia com potenciais clientes ajuda a ajustar e melhorar sua oferta”.
Segundo Gabriela Sabino, um bom planejamento também é crucial para ser uma empreendedora de sucesso. “Planeje-se bem, estude o mercado e invista em capacitação. Mas não tenha medo de buscar soluções que facilitem a sua vida, como a delegação de tarefas. Não se sinta culpada por priorizar seu negócio neste começo. O sucesso das mulheres é fundamental para o equilíbrio da sociedade como um todo”, finaliza a especialista.